quinta-feira, 23 de abril de 2009

Conto do amor




- A fuga -




I




Não tinham muitas pessoas no funeral da Sra Mary Anne, apenas sua filha Kelly, seu marido Sr Max Tonner e alguns vizinhos. Ela morreu atropelada em frente à mercearia onde sempre fazia compras, morte instantânea, não chegou nem a ser atendida no hospital.

Sra Mary Anne teve Kelly com vinte anos, mas não casou, seu namorado era americano, estava em Londres apenas para estudar, quando ela o conheceu ele já estava no último ano de direito, foi embora sem saber de sua gravidez. Ela criou sozinha sua filha, seus pais morreram cedo, era filha única, quando Kelly tinha doze anos ela conheceu o Sr Max, ele morava em Folkestone, uma cidade do condato de Kent, eles logo se casaram e foram morar na casa dele, era viúvo, mas não tinha filhos, não que ela o amasse, mas temia que acontecesse alguma coisa a ela e não queria deixar sua filha sozinha e desamparada.

Já passavam das sete horas da noite quando o último casal deixou a casa do Sr Tonner, Kelly foi para cozinha lavar os pratos, a casa não era grande, possuía uma pequena varanda na frente, o maior aposento era a sala, onde foi dividida em duas partes, uma delas estavam uma mesa com quatro cadeiras e um pequeno armário, na outra um sofá de courvin verde e duas cadeiras de balanço em madeira com palhinha; dois quartos, um era do casal e o outro era de Kelly, apenas um banheiro, a cozinha era toda de azulejo branco, uma pia, alguns armários, uma geladeira e um fogão branco, os dois já bem usados. Quando ela saiu da cozinha, foi até a sala arrumá-la, depois subiu para seu quarto, sentou-se na sua cama, estava triste a pessoa mais próxima dela agora era o padrasto, como ela queria ter conhecido seu pai. Enquanto estava solta em seus pensamentos, o Sr Max bate na porta do seu quarto.


– Pode entrar Max! – ela nunca o chamou de pai nem de senhor, apenas pelo seu nome. Ele parou em frente à porta e ficou a olhando, de um jeito que a incomodou, ele nunca a tinha olhado desse jeito.

– O que foi? Aconteceu alguma coisa? – perguntou ela assustada. Ele se aproximou e sentou-se na cama perto dela, continuava olhando para ela de forma estranha.

– Você está bem? – perguntou a ela no mesmo tempo em que colocou uma das suas mãos na coxa dela e alisou, ela estremeceu, o medo estava estampado em seus olhos, sua primeira reação foi de se afastar, mas ele a pegou com força pelos braços, quanto mais ela tentava se livrar, mas ele a apertava.

–Você vai ser minha! – ele falava, tentando beijá-la. Finalmente ela conseguiu libertar um de seus braços dele agarrou um anjo de porcelana branco que estava em sua mesinha de cabeceira e a quebrou em sua cabeça com toda a força, ele caiu, parecia desmaiado, ela correu, pegou algumas roupas colocou em uma pequena mala rosa, foi até o quarto que era da sua mãe e pegou uma foto dentro de uma gaveta da cômoda e algum dinheiro, saiu de casa e apanhou o primeiro ônibus que passava, não importava para onde ia, apenas queria sair dali o mais rápido possível, uma hora e meio depois ela chegou na capital.

Ela está no centro da cidade de Maidstone, desce do ônibus, embora não fosse um lugar totalmente estranho para ela, já havia andado por aquelas ruas muitas vezes com sua mãe não para fazerem compras, apenas para passearem, olharem as vitrines, dessa vez era diferente, estava sozinha e sem destino. Andou pela calçada, até ver um bar aberto, entrou e ficou encostada numa coluna, olhando o movimento e ouvindo a música. Neste mesmo bar, sentados em dois bancos em frente ao balcão estavam Jim e Robert, eles eram fotógrafos, tinham um estúdio e trabalhavam para algumas revistas e jornais. Jim tinha vinte e quatro anos, moreno claro, cabelos pretos e olhos castanhos, era muito bonito, Robert era um pouco mais velho, tinha vinte e sete anos, cabelos castanhos, olhos verdes, eram amigos desde a faculdade.

Jim percebeu que alguém o olhava com insistência, resolveu encará-la, era uma moça de cabelos escuros e compridos, parecia bonita, não tinha certeza, a iluminação era um pouco fraca, mesmo assim continuou olhando para ela, sorriu, sabia que de onde ela estava, dava para vê-lo muito bem, pois o balcão era a parte mais iluminada do bar, mas ela continuava imóvel apenas olhando para ele. Começou a acenar para ela com as mãos, ela continuou parada, resolveu então ir até lá.

– Ei! A onde você vai? – perguntou Robert, Jim não respondeu nada, apenas tocou no ombro dele e saiu, quando chegou perto dela, foi logo falando.

– Oi! Você por acaso me conhece? – a música estava um pouco alta, então ele teve que colocar sua boca bem perto do ouvido dela, para que ela pudesse ouvi-lo. Kelly respondeu baixinho: – Não!

–Jim Austen. – Ele se apresentou estendendo a mão.

– Kelly... Kelly Miller – ele sorriu, colocou uma das mãos na coluna e perguntou, ainda com seu rosto bem próximo ao dela: – Quer falar alguma coisa comigo? – ela apenas ficou olhando para ele, parecia assustada.

– Quer que eu vá embora? – dessa vez ele falou um pouco afastado.

– Não! Por favor, fique.

– Você quer se sentar e beber alguma coisa?

– Posso te fazer uma pergunta? – pela pergunta ela parecia que não tinha escutado nada do que ele falou.

– Pode! – respondeu franzindo as sobrancelhas. – O quê é?

– Você é casado?

– Não! Por que?

– É... – demorou um pouco, baixou a cabeça por um momento e quando levantou, perguntou olhando para ele. – Quer transar comigo? – na hora ele ficou paralisado, sua boca estava um pouco aberta, ele não conseguia tirar os olhos dela, nunca passou pela sua cabeça, uma garota totalmente estranha lhe fazer um convite desse tipo, pelo menos não naquele momento, esse convite o pegou totalmente de surpresa, fechou a boca, respirou fundo e perguntou-lhe: – Você é sempre assim, digo direta?

– Não.

– Você não pode sair por ai fazendo essa pergunta para um homem que você acabou de conhecer?

– Por que não? Vocês homens não fazem?

– É diferente.

– Por que?

– Não sei, realmente não sei, talvez a sociedade...

– Você quer ou não quer? – ela o interrompeu.

– Quero. – respondeu ele, dessa vez sem pensar muito, afinal não tinha nada a ver com a vida dela, nem com a maneira dela agir com os homens. O problema é dela e ele era um homem, não tinha nada a perder.

– E para onde a gente vai?

– Para sua casa.

– Minha casa?

– É!

Ele a olhou dos pés a cabeça e voltou de novo para os pés, fica observando a pequena mala que estava do lado dela, no chão.

– Você não está querendo me roubar, está?

– Não. – respondeu ela olhando nos olhos dele.

– Ok! Você me convenceu, Vamos? – na saída, pediu para que ela esperasse um pouco enquanto ele ia se despedir do amigo.

– Você é mesmo um cara de sorte, ela é uma gata! – falou Robert. – A gente se vê amanhã.

Quando eles chegaram no apartamento dele, ela colocou sua mala em um canto perto da parede, e sua pequena bolsa no chão, perto da cama. Ele foi até junto dela.

– Quer beber alguma coisa?

– Água.

Ele vai até a cozinha e volta com um copo de água e entrega a ela, que a bebe, ele pega o copo de sua mão, e leva de volta para a cozinha, quando volta para a sala, vai até ela e a abraça, beija seu pescoço, sua boca, vai tirando sua roupa devagar, ela também o ajuda a desabotoar a camisa dele, já sem as roupas, ele a carrega até a cama, fica por cima dela, continua beijando-a, ele percebe que ela está muito quieta e trêmula.

– Você tem certeza que já fez isso? – perguntou ele franzindo a testa e olhando para ela.

– Muitas vezes! – respondeu rapidamente. Ele balançou a cabeça rindo, e voltou a beijá-la, embora ela já tenha feito isso muitas vezes, ele preferiu ir com cuidado e bem devagar com ela. No dia seguinte, quando ele acordou, ela ainda estava dormindo, pegou o cobertor para cobri-la, foi quando ele viu uma mancha de sangue na cama. – Droga! – ele deu um pulo da cama xingando, o que fez ela acordar assustada olhando para ele.

– Você mentiu para mim, era sua primeira vez! – ela continuou olhando para ele calada. Ele pegou sua bolsa do chão e a abriu.

– O que você quer com minha bolsa? – ele pegou a fotografia que estava dentro e perguntou.

– Quem é esse?

– Meu pai, eu estou indo me encontrar com ele.

– Onde?

– São Francisco.

–Na América? Mas onde?

– Em São Francisco, está surdo?

– Quero saber em que lugar... Endereço, você entendeu?

– Eu ainda não sei.

– Ah! Está legal, deixa ver se entendi, você vai até São Francisco, segurando essa foto de quantos anos atrás? Vai de trem?

– Vinte, e lógico que não, você acha que eu não sei onde fica a América, vou de avião.

– Vinte anos atrás, e você por acaso vai sair perguntando a todos, você conhece esse senhor? Com certeza você vai achá-lo logo. – continua mexendo em sua bolsa.

– Você quer parar de mexer na minha bolsa e vestir alguma coisa, você está nu, sabia?

– Não está um pouco tarde para ficar puritana? – nesse momento ele encontra sua identidade e mais uma vez sua cara fica furiosa.

– Você é de menor!

– Só seis meses. – ela agora já estava começando a ficar com medo da reação dele.

– Eu sabia que você era encrenca, estava escrito na sua testa. Como eu fui um idiota, estava tudo fácil demais.

Andou pelo quarto de um lado para o outro, olhou para ela, por um momento sentiu vontade de rir, ela estava com as mãos tampando os olhos, embora um pouco mais calmo, falou com um tom de voz bem sério. – Levante-se e vá trocar sua roupa, vou te deixar em casa. – pegou um lençol e o enrolou em sua cintura.

– Eu não tenho casa. – respondeu ela tirando as mãos dos olhos.

– E a casa da sua mãe?

– Ela morreu.

– Algum irmão, irmã?

– Não tenho.

– Tio, tia, avô, avó...Qualquer pessoa! – Ele já estava ficando furioso de novo.

– Eu não tenho ninguém.

– Ninguém? Você está brincando comigo.

– Não, é verdade!

– Tudo bem, então eu vou te levar até a polícia.

– Não, a polícia não, por favor! Tudo bem... Eu tenho um padrasto.

– Ah! Já tem alguém, que bom! Estamos começando a nos entender.




fim do primeiro capitulo.






Kcoimbra.

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